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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Imagens mostram médica voltando para socorrer bandido em ônibus

Vídeos das câmeras de segurança de ônibus assaltado no Rio foram cedidos com exclusividade ao Fantástico e mostram ação dos bandidos.
Uma médica e um policial tiveram as vidas cruzadas quando menos esperavam. Eles eram passageiros de um ônibus, no Rio de Janeiro, e durante um assalto tiveram que tomar decisões rápidas e difíceis.
Quarta-feira (1). Era um dia como outro qualquer para os passageiros de um ônibus, no Rio. Nem tinha amanhecido ainda, quando um homem com mochila nas costas, um policial civil, entra e vai direto para a parte de trás, no lado onde fica o motorista.
A outra personagem dessa história entra 15 minutos depois. É uma mulher com uma mochila vermelha, uma médica. A câmera não registra, mas ela senta logo na primeira fileira, bem atrás do motorista.
Seis e meia da manhã, outra parada. Entre os quatro novos passageiros, estão três assaltantes, que entram sem levantar suspeita. O primeiro é um com uma camisa polo e fone nos ouvidos, que paga a passagem, passa a roleta e vai para o fundo do corredor. O segundo bandido usa mochila nas costas, amarrada na barriga e que também se dirige para o fundo do ônibus. O terceiro ladrão usa uma roupa de frentista e finge estar com problema na hora de passar o cartão.
Fantástico: Você prestava atenção nele neste momento por quê?
Médica: Comecei, porque ele não passava.
Quando o ônibus começa a andar o bandido saca a arma e anuncia o assalto para o motorista. Nesse instante, o ladrão que está nos fundos faz o mesmo. Ele ameaça as pessoas, vai até a frente do ônibus, troca de arma e posição com o bandido que estava perto do motorista. Enquanto isso, o assaltante com a mochila recolhe objetos dos passageiros. O policial que embarcou no início da viagem se mantém quieto até esse momento.
“Eles estavam ameaçando todo mundo, eles estavam muito nervosos. Eles estavam também muito agitados. Eu vi aqui ali poderia ter um tiro deles a qualquer momento. Aí eu vi que ali eu deveria agir”, conta o policial Eduardo Bezerra.
As imagens mostram que ele está sentado quando atira pela primeira vez contra os bandidos. Um deles já cai ferido. O policial levanta e atira mais. O motorista abre a porta com o ônibus em movimento e dois dos assaltantes pulam, um deles ferido na barriga. O com roupa de frentista cai atrás do motorista, aos pés da médica.
“Eu fiquei um pouco estática sem saber o que fazer porque o corpo dele me impedia de sair”, conta a médica Simone de Souza.
As imagens das câmeras de segurança do ônibus foram cedidas com exclusividade ao Fantástico. Elas fazem parte de um projeto para combater assaltos.
“Nós estaremos mapeando, traçando diagnóstico e fornecendo essas informações às autoridades policiais a fim de que os policiamentos sejam realizados de maneira mais efetiva”, destaca Adriana Nunes, coordenadora do Disque-Denúncia.
O desfecho desta história poderia ter sido diferente, se não fosse a presença do Eduardo dentro do ônibus. Ele ia para o trabalho, um plantão de 24 horas em uma delegacia em Copacabana, na Zona Sul. Uma rotina que começou a fazer parte da vida dele há pouco tempo, há exatamente um ano, quando ele entrou para polícia.
Fantástico: Você nunca tinha atirado em alguém antes?
Policial: Não, nunca tinha atirado, eu confiei no meu treinamento e esperei o melhor momento, e me mantive calmo.
Fantástico: Foi a tua experiência mais perigosa como policial?
Policial: Sim, com certeza.
Experiência que ganhou o agradecimento de Simone, a médica que ficou sob a mira de um dos bandidos.
Médica: A gente vê que está aqui porque alguém tomou uma atitude.
Policial: É dever cumprido, muito bom. É gratificante também.
Eduardo e Simone se reencontraram para ver pela primeira vez as cenas de medo e tensão que viveram no ônibus.
Fantástico: Você teve medo de morrer?
Médica: Sim, aquela arma apontada para a gente, quem não tem?
Policial: Eu acerto o que está ameaçando a Simone, e um que está logo do lado dele.
Depois que todos estavam fora do ônibus, o instinto de Simone falou mais alto.
Fantástico: Por que você volta para o ônibus?
Médica: Num determinado momento eu olho para dentro do ônibus e percebo que o rapaz está ainda com vida. Tinha uma pessoa, um ser humano, que tomou uma opção errada na vida, mas tinha uma vida ali agonizando.
Antes que a ambulância chegasse, Simone pegou a luva de um policial e agiu.
“Primeira coisa eu fui ver se tinha pulso, ele tinha os olhos abertos, ele gemia, tinha uma respiração ruidosa, já tinha uma lesão grave. Ele já tinha sinais de lesão cerebral”, relata a médica.
Bem diferente do que fez um policial militar, que chegou depois para atender a ocorrência. “Vai ver o diabo de perto”, diz o PM. Ele foi afastado da função depois dessa atitude.
O assaltante Mayron Gomes dos Santos, baleado na cabeça, está internado em estado grave.
Carlos Rafael Silva Augusto, ferido na barriga, também está no hospital, mas não corre risco de morrer. O outro ladrão conseguiu fugir e ainda não foi identificado.
Para o policial Eduardo e para a médica Simone, que já foi vítima de dez assaltos, o final dessa história foi feliz.
“Eu agradeço estar viva, vê que graças a Deus nenhum passageiro, nenhum trabalhador sofreu nenhum arranhão”, destaca a médica.
“A gente preserva vidas e às vezes tem que fazer escolhas, ali eles estavam ameaçando também os outros passageiros, então é uma escolha”, diz o policial.
“Depois de um susto desse com certeza vai ser uma nova data de aniversário”, conta a médica.

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